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CRÓNICAS DA CONDIÇÃO HUMANA – LXXIX Alfredo Bernardo Serra EM NOME DE… É da condição humana tanto a necessidade relacional quanto a busca da filiação divina, o que é próprio do sentimento humano em indefectível relação do filho com o pai e a mãe que lhe deram a a vida. É ainda neste plano relacional que se inscreve em absoluto toda e qualquer atitude do amor incondicional de filho. Isto mesmo nos ajuda a compreender as férreas e ferozes atitudes daqueles que a tudo recorrem em nome de Deus e com determinação cega se lançam em guerreiras cruzadas na, pela e para a defesa da fé que professam. Mas é bom e conveniente reter a propósito as sábias e santas palavras de São Josemaria Escrivà: «Não se pode ceder no que é de fé; mas não te esqueças que, para dizer a verdade, não é preciso maltratar ninguém.» (Forja,959) Decerto já o prezado leitor associou estas palavras aos factos dos últimos tempos ocorridos em Paris sob a forma de atentado terrorista contra o jornal satírico Charlie Hebdo e subsequentes guerrilhas. Sim, mas não só, porque cabe aqui todo o tipo de fanatismo religioso, ideológico, clubista; enfim, o fanatismo, a intolerância, a violência, a insídia e a calúnia, a injúria e a blasfémia são garrotes da paz e da fraternidade entre os homens. Hoje como nos tempos medievais e também na justificação da condenação de Jesus à morte de cruz se invocou o nome de Deus. Nos remotos tempos da história da igreja cristã, mormente com incidência no período do séc.XI a XIII, nobres e cavaleiros da europa partiram em demanda nas cruzadas para irem defender as terras e lugares santos de Jerusalém mas também as terras cristãs já antes tomadas pelos muçulmanos, nomeadamente a Península Ibérica, por via duma suposta guerra santa dos sarracenos em nome do deus Alá e segundo a palavra do profeta Maomé. Sim, aquele que foi caricaturado nas páginas do Charlie Hebdo e cujo nome é proclamado pelos fundamentalistas islâmicos que “em nome de Alá e do Profeta Maomé” matam quem os ofende do mesmo modo que condenam e enforcam os cristãos que se recusam a renegar o cristianismo e não se convertem ao islão. Mas registamos também a ocidente, aqui mesmo entre nós, na nossa rua e ao virar da esquina, na mesa do café e no interior da escola, na sala de espera do hospital e à porta da igreja, outros tipos de fundamentalismo em muito ou absolutamente semelhantes ao que hoje é marca do pretenso Estado Islâmico: tudo em nome de Deus! Por oposição, e na verdade cristã, levanta-se a voz do Papa Francisco em genuíno apelo à paz, na aceitação da fé alheia mas também na condenação daqueles que não respeitam ou não respeitaram a liberdade de expressão nem a religião dos outros. Ao contrário da autenticidade cristã e da magnânime solidariedade entre pares tão própria da natureza humana, vimos o cordão da hipocrisia oportunista nos cerca de quarenta líderes políticos dos mais diferentes quadrantes que se reuniram numa das artérias (avenida) da cidade de Paris, supostamente no seio da manifestação de indignação contra o atentado islamista que vitimou o directório e núcleo operacional do jornal Charlie Hebdo. No entanto, estes homens e mulheres de poder político têm estado calados, nada dizem da violência contra os que por terras arábicas se afirma cristãos. Alguns daqueles “Je suis Charlie” assumem atitudes e lançam palavras de tapa boca, de anulação dos valores da matriz histórico-cultural dos povos europeus. Nem sequer os vemos fazer o que quer que seja pela preservação de templos, mosteiros ou de arte sacra cristã. Mas sempre que oportuno, justificam-se estes políticos em nome de valores da liberdade e da democracia, da isenção e da não ingerência em coisas de religião. Mas entretanto falam, decidem, indignam-se, escusam-se a isto e àquilo, enquanto outros atacam e matam em nome de um certo deus. De Deus não é certamente, porque nem qualquer deus, mesmo que da guerra, seria tão vil e despudorado. É tempo de os homens usarem tudo o que de bom há na natureza humana: sentido de fraternidade, docilidade, concórdia e amor, endógena necessidade de paz, sensatez e sabedoria. E tanto mais será conseguido a bem da humanidade se para tudo isto for invocado o Amor com verdade e pura paixão, o verdadeiro Amor, em nome de Deus. Proença-a-Nova, 20 de janeiro de 2015