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CRÓNICAS DA CONDIÇÃO HUMANA – CX
No rescaldo do Verão
É recorrente a época de Verão associar-se à relação do homem com a natureza, donde emergem palavras e conceitos sociais: calor, água, férias, praia, natureza, campismo, festivais, ócio, fogos, bombeiros, negócio, voluntariado…). É comum os dias e noites de Verão serem vividos quase diariamente pela generalidade da população portuguesa (e noutras latitudes do Planeta: Austrália, EUA, …) no sufoco do calor e na relação com os fogos florestais e outras tragédias ‘humanas’, como os afogamentos em piscinas, rios e mares de praia e as mortes por acidente rodoviário. Tudo isto acontece por incúria, desleixo, irresponsabilidade da pessoa no uso abusivo da liberdade humana individual, sem respeito pela vida nem pela liberdade colectiva e a organização social.
É frequente os incendiários de fogos florestais serem julgados inimputáveis, isto é, não pode ser- lhes atribuída responsabilidade culposa pela ignição (atear o fogo), porque - ao que parece - sofrem de perturbações mentais, padecem de doença psíquica, têm problemas de ordem psicossociológica (desemprego, desintegração social, instabilidade familiar, divórcio, alcoolismo, piromania,...).
É da condição humana haver uma relação adaptativa ao ambiente natural enquanto lugar de vida na dimensão existencial da sobrevivência. Ao longo dos tempos, o homem aprendeu a respeitar a natureza das coisas e a usá-las para benefício próprio, primeiramente em atitude recolectora e depois em acção exploradora e transformadora dos bens, por via da agricultura e da pecuária até à industrialização dos tempos actuais. Infelizmente, a relação do homem com a natureza peca por defeito no respeito da natureza das coisas e, desde logo em consequência directa, na salvaguarda do equilíbrio ecossistémico; avoluma-se por excesso a acção exploratória da natureza pelo homem fundada em exclusivo na razão do lucro imediato a qualquer preço. Na Carta Encíclica “Laudato Si”, o Papa Francisco recorda-nos as palavras do Papa Emérito Bento XVI: «a degradação da natureza está intimamente ligada à cultura que molda a convivência humana».
No rescaldo do Verão, é tempo de reequacionar o quadro legislativo e o código de conduta individual e colectiva na relação com a natureza em geral, e com o meio ambiente envolvente do dia-a-dia de cada pessoa ou grupo. E que tudo se faça no princípio do bem comum, que “pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral”, como refere o Papa Francisco, que esclarece: «o bem comum requer a paz social, isto é, a estabilidade e a segurança de uma certa ordem, que não se realiza sem uma atenção particular à justiça distributiva, cuja violação gera sempre violência. Toda a sociedade – e, nela, especialmente o Estado – tem obrigação de defender e promover o bem comum” (Laudato Si, p.107).
Sirva a leitura do sofrimento humano causado pelos fogos florestais, e sobretudo as vidas humanas perdidas nos incêndios florestais, e pelas tragédias no viver afogueado do calor e tempo estival de férias, para se redefinir um outro Plano de Educação para a aliança entre a humanidade e o ambiente, na defesa e preservação da vida humana e do Planeta Terra, a nossa Casa Comum (Papa Francisco) que herdámos de nossos avós para a deixar em herança aos nossos netos.
Neste sentido, é urgente recuperar o respeito absoluto pela Criação e a Vida como dom de Deus.
Proença-a-Nova, 23 de Agosto de 2017