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CVIII- CRÓNICAS DA CONDIÇÃO HUMANA
*Alfredo Bernardo Serra
SOMOS MODERNOS
É próprio da condição humana usar da liberdade individual e da autonomia pessoal para emitir opinião sobre tudo e acerca de nada, na confirmação do provérbio “cada cabeça, cada sentença”.
Nos alicerces do conhecimento da vida quotidiana são determinantes: a realidade, a interacção e a linguagem e conhecimento da vida no dia-a-dia; já para a realidade social objectiva associam-se a institucionalização e a legitimação, ao que, necessariamente, há que acoplar a interiorização na construção da sociedade como realidade subjectiva, o que promove alterações na estruturação social e na(s) identidade(s) da comunidade e dos povos. Neste plano da construção social da realidade, é determinante a «cultura» que “é do homem, a partir do homem e para o homem (…) caracteriza o homem e distingue-o dos outros seres.” Ensina ainda S. João Paulo II que “o objectivo primário da cultura é o de desenvolver o homem enquanto homem, o homem enquanto pessoa, ou seja, cada homem enquanto exemplar único e irrepetível da família humana.”, sendo que “o objectivo da verdadeira cultura é fazer do homem uma pessoa, um espírito plenamente desenvolvido, capaz de chegar à perfeita realização de todas as suas capacidades.” (Papa S. João Paulo II, Universidade de Coimbra, 1982)
Há dias, num programa TV, mais de entretenimento social com laivos de (pseudo)cultura do que olhar sério sobre a realidade social, a pivot reportava os casamentos de noivos de Santo António e Às tantas disse com ar um tanto “alegre” algo como «agora já quase não se casa pela igreja» e acrescenta, quiçá em ‘pro domo sua’ (causa própria): “somos modernos”.
No cenário infernal dos fogos florestais, dizem uns entendidos na matéria que “fogos rurais”, ouvem-se milhentas vozes e tantas mil opiniões do anónimo popular ao mais categorizado cientista em biodiversidade, investigador na prevenção e combate aos fogos, político decisor em matéria de planeamento e ordenamento do território, protecção civil, e demais áreas da realidade social. Certo é que muito se fala e pouco se cala, e nada se faz em interacção institucional para alterar o que está mal. Mas compram-se os modelos técnicos mais recentes e adquire-se a tecnologia mais sofisticada de combate aos eventuais fogos, não se apostando a montante nas estratégias activas de prevenção e educação ambiental das pessoas. Bastaria para tanto que se recuperassem práticas avoengas de reciclagem e aproveitamento (bio)lógico de recursos naturais da biodiversidade.
Mas “somos modernos”!
Nos últimos dias, estivemos já assediados por comícios-festa de apresentação de candidatos à governança autárquica (eleições a 1 de outubro). E lá vêm os esterótipos da suposta “modernidade” impulsionados pelo que há de mais peculiar na tradição do povo: o convívio salutar à volta dos comes e bebes, ambiente de festa politiqueira que a literatura oral-popular tão bem traduz: “com papas e bolos, se enganam os tolos”. Mas é preciso dar ares de modernidade!
Bom seria que ao púlpito no coreto subissem homens e mulheres de cultura, pessoas que vivem nos valores da matriz judaico-cristã da sociedade europeia, gente com coragem para as políticas que tardam em defesa da pessoa, da dignidade da vida e da matriz cultural portuguesa, nesta lusa pátria que D. Afonso Henriques consagrou a Nossa Senhora, Santa Maria.
Proença-a-Nova, 21 de Junho de 2017